SERÁ QUE SOU UM FARRAPO

Um dos grandes dilemas de um farrapo é saber se podemos nos intitular farrapo (Sou Farrapo!) ou se essa afirmativa não nos pertence e só pode ser feita por um outro farrapo. De fato, temos uma visão um pouco distorcida de nós mesmos, pois tendemos a hipervalorizar nosso eu e, não raras vezes, em detrimento do outro… Explico melhor: fomos educados em um sistema de comparações em que um ponto geralmente é explicado ou visto em relação a outro. Tendemos ao comparativo e assim nos sentimos mais ricos quando vemos mais humildes, classificamos algo como bonito quando nos deparamos com o feio, etc.
Ocorre que por vezes nosso egocentrismo é tão grande que ficamos míopes. Ao ponto até de ficarmos assustados ao ver nossa própria imagem refletida em um espelho. Tendemos a não acreditar no que vemos. - Não, não é possível que seja eu! - Ou então forçamos a barra e procuramos influir na imagem que o espelho está nos revelando. - Sim, sou eu, mas veja...! - E desta forma, o feio se torna belo e assim por diante. Assim, ao nos considerarmos farrapos, em detrimento de sermos reconhecidos como farrapo, chamamos para nós um conjunto de características do “SER FARRAPO” que muitas vezes não temos.
Claro, sempre se pode invocar o cômodo formalismo: “Sou farrapo porque participo da semana farroupilha; sou farrapo porque pertenço à diretoria da Associação do Movimento Farroupilha da Cidade, etc.” Mas isso realmente nos confere a autoridade para nos denominarmos farrapos? Afinal, o que é ser farrapo ??? Será que é somente participar da semana farroupilha? Será que é só participar da diretoria da associação? Será que não implica em mais nada??? Há muito se escuta um trocadilho muito usual em nosso meio, principalmente quando temos algumas restrições em relação a um determinado tradicionalista: “fulano é um dos nossos, temos que trazer para o movimento farroupilha”… Por certo então, que SER FARRAPO implica muito mais que ter passado pela diretoria da associação, ter sido coordenador ou participado de semana farroupilha. Então o que ou quem é o farrapo? Há algo que o diferencia de outra pessoa? Se nos orientarmos pelos costumes regionalistas sul brasileiro teremos uma visão superidealizada do SER FARRAPO. O problema é que no convívio, no dia a dia, essa visão quase sempre se desfaz. Então, penso que precisamos deixar do modo impostor de ser farrapo e darmos um passo adiante.

           Está na hora de SERMOS FARRAPOS, E isso passa por reconhecer que:
           1. Você não é o centro do universo;
           2. Que outros podem vivenciar mais a cultura farroupilha do que você!
           3. Que os cargos na diretoria da associação ou de coordenador da semana farroupilha de nada               servem, se as atitudes são as mesmas que tínhamos antes de nos intitularmos farroupilhas;
           4. Que temos pesquisado, estudado e refletido muito pouco sobre a cultura farroupilha (ideais,                 simbolismo da chama, uso e costumes);
           5. Que temos sido ausentes nas reuniões. Será que é porque nos achamos melhor que aqueles                   que estão sempre lá, gostando ou não, ajudando nos trabalhos; ou por que estabelecemos                      outras prioridades?
           6. Que se é verdade que tradicionalismo não se faz somente na semana farroupilha, também é                  verdade que sem estar na semana farroupilha não se faz tradicionalismo! É nas reuniões                     que   exercitamos o submeter as vontades e fazer levantes em favor da moral, da ética e dos                 bons   costumes. Não nos iludamos quanto a isso!
           7. O Movimento farroupilha não é clube social, partido político, confraria da cerveja, o                             quintal  de nossa casa ou a sala de nosso trabalho, mas sim, um movimento de reflexão                          sobre    a atualidade.
           8. O Movimento Farroupilha não tem dono. Ele é de todos, como a responsabilidade também                    é   de todos!

  Assim, é necessário deixar que: 
         1. Os ideais, a simbologia, em especial a da chama crioula tomem forma em nosso interior e se manifestem em nossas atitudes, não em meras palavras;
         2. Que a condução da centelha e a ronda da chama crioula nos tome a mente e o coração;
         3. Que a humildade aflore em nossas palavras e ações. Deixemos de lado o medo, baixemos a guarda pois estamos entre Farrapos. Aí sim, cada um de nós poderá receber o seu prêmio, que não é um certificado ou troféu em detrimento de outros Farrapos, mas que seja tão somente uma ação. Então, no momento que você entender que, o que a mão esquerda faz, a direita não precisa saber, você será reconhecido UM FARROUPILHA, SEM SOMBRA DE DÚVIDAS! Agora sim, depois de ler, interpretar e entender o texto, com alegria posso dizer:


SOU UM FARRAPO SIM SENHOR.
Adilson Caetano Buzzi -
Advogado – Jornalista -
Presidente da Associação do Movimento Farroupilha da Cidade de Joinville. Agosto de 2018.

Comentários